domingo, 25 de dezembro de 2011

Feliz Natal.


Já era noite em Dublin. A neve caía ao meu redor enquanto olhava em volta e não te via. Melhor, penso que tudo o que via era o teu rosto. Deixei cair ao chão a garrafa de "Jameson" já vazia (Já?! Estranhei). Não se partiu. A neve amparou-lhe a queda (E a mim? Quem me poderia amparar?). De lá longe ecoava uma velha canção irlandesa e eu pus-me a dançar sozinho sob a aura da tua imagem ampliada pelas minhas lágrimas etilizadas. O teu sorriso acompanhou-me nesta minha louca e frenética dança… dança? Que estupidez… eu pensava que estava bêbado. Talvez embriagado por ti… talvez embriagado pela última gota de whisky que tinha bebido. Um velho maltrapilho aproximou-se e partilhou comigo a sua garrafa meia vazia, contendo um líquido repugnante. Mas… que me importava. Não seria eu, o conteúdo daquela garrafa? Bebi um trago acolitado pelo esgar do velho que arreganhou a sua branca e suja barba. Os dentes que lhe faltavam faziam-me recordar o siso que de mim fugira. Começamos a bailar então os dois ao som daquela velha canção irlandesa que de lá longe se ouvia… vira para um lado… vira para o outro… Já era noite em Dublin e a neve caía ao meu redor enquanto tu olhavas para mim. E bailámos e cantámos e bailámos e cantámos e chorámos e bailámos e cantámos… Não sei se contigo, se com o velho ou simplesmente sozinho.

Por fim, o meu grande amigo de longas horas despediu-se, oferecendo-me a garrafa com o que restava daquele saboroso néctar. Dei-lhe dois beijos na face. Já era noite em Dublin. Uma fria e desabrigada noite de Natal, aquecida e amparada pela amizade do velho da barba branca e suja. O seu nome? Não lhe cheguei a perguntar. Na minha memória futura, ficaria para sempre conhecido como Nicolau.

Meu, 24 de Dezembro de 2009

Quando tudo arde

"Que farei quando tudo arde?" (Sá de Miranda) No interior, já não se ouvem Ovelhas a balir, pássaros a cantar. Apenas ...