Feliz Natal.


Já era noite em Dublin. A neve caía ao meu redor enquanto olhava em volta e não te via. Melhor, penso que tudo o que via era o teu rosto. Deixei cair ao chão a garrafa de "Jameson" já vazia (Já?! Estranhei). Não se partiu. A neve amparou-lhe a queda (E a mim? Quem me poderia amparar?). De lá longe ecoava uma velha canção irlandesa e eu pus-me a dançar sozinho sob a aura da tua imagem ampliada pelas minhas lágrimas etilizadas. O teu sorriso acompanhou-me nesta minha louca e frenética dança… dança? Que estupidez… eu pensava que estava bêbado. Talvez embriagado por ti… talvez embriagado pela última gota de whisky que tinha bebido. Um velho maltrapilho aproximou-se e partilhou comigo a sua garrafa meia vazia, contendo um líquido repugnante. Mas… que me importava. Não seria eu, o conteúdo daquela garrafa? Bebi um trago acolitado pelo esgar do velho que arreganhou a sua branca e suja barba. Os dentes que lhe faltavam faziam-me recordar o siso que de mim fugira. Começamos a bailar então os dois ao som daquela velha canção irlandesa que de lá longe se ouvia… vira para um lado… vira para o outro… Já era noite em Dublin e a neve caía ao meu redor enquanto tu olhavas para mim. E bailámos e cantámos e bailámos e cantámos e chorámos e bailámos e cantámos… Não sei se contigo, se com o velho ou simplesmente sozinho.

Por fim, o meu grande amigo de longas horas despediu-se, oferecendo-me a garrafa com o que restava daquele saboroso néctar. Dei-lhe dois beijos na face. Já era noite em Dublin. Uma fria e desabrigada noite de Natal, aquecida e amparada pela amizade do velho da barba branca e suja. O seu nome? Não lhe cheguei a perguntar. Na minha memória futura, ficaria para sempre conhecido como Nicolau.

Meu, 24 de Dezembro de 2009

Comentários

  1. Gostei de mais este texto Yellow... intenso... sozinho mas "acompanhado" é assim quando se ama..


    1 beijinho e continuação de Boas Festas

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