Promessa
Pendennis Castle, Falmouth, Cornwall
A aproximação foi feita à bolina cerrada e o vento ameaçava
romper cada vez mais as velas sujas e gastas do veleiro enquanto lá
no alto, planando num céu coberto e cinzento, um bando de gaivotas recebeu
aquele navegador solitário com um coro ensurdecedor confirmando, assim, o
temporal que se adivinhava.
Passada a última espia para a terra, John saltou de imediato
para o cais, afundou o seu velho boné de marinheiro na cabeça e de passos
largos subiu pela Arwenack Street. Pelo caminho, com destino certo, parou no
pub do velho Sam que, logo quando o viu, exclamou:
- Amigo John, bons e agrestes ventos te trouxeram de volta!
Quanto tempo se passou? Quatro, cinco anos?...
- Quatro anos, sete meses e dezoito dias, para ser mais
preciso - respondeu, embora estivesse sem vontade alguma para conversar.
Enquanto bebia sofregamente a Guinness, confidenciou que iria até ao
castelo Pendennis.
- Ninguém deve estar por lá, homem de Deus. Já viste o
mau tempo que se está a pôr?
Mas John sabia que ele estava enganado. Alguém estaria lá à
sua espera. Saiu do pub, cruzou as ruas de Falmouth, subiu pela Castle Drive e
ao chegar lá ao topo, o longo e enorme tapete de relva verde parecia
estender-se para o receber. Ao fundo, perto do castelo, vislumbrou as costas de
uma delicada figura feminina, sentada numa manta alva, com uns longos cabelos
ruivos a esvoaçarem ao vento. Quando se aproximou, ela virou-se e
acolheu-o com um largo sorriso desenhado numa face bonita e levemente
sardenta:
- Eu sabia que voltarias!
-Claro que sim, Pat. A viagem foi longa mas passei por todos
os locais que ilustraram as histórias que te contei quando eras mais pequena:
As ilhas de Galápagos, Madagáscar, os mares das Caraíbas…
- Então essa argola de ouro que estás a usar na orelha
esquerda…
- Sim, Pat, como na história do Edward, o pirata, também eu
passei pelo cabo Horn à vela. Atlântico para o Pacífico, obviamente. Vês esta
cicatriz aqui? Ganhei-a numa disputa, há dois anos.
E embora o seu rosto revelasse um forte cansaço, não deixou
de contar, animada e pormenorizadamente, todas as suas façanhas destes últimos
anos. A tarde, entretanto, ia longa e as primeiras gotas começavam a cair.
- Papá, tu és um homem de palavra. Vem!
Levantaram-se ambos e caminharam serenamente, lado a lado,
em silêncio. Chegados à beira da característica encosta alta e escarpada da
Cornualha, John abriu os braços e, sem hesitação, mergulhou naqueles aguçados
rochedos que violentamente o acolheram.
Finalmente poderia repousar em paz, junto da sua doce e
saudosa princesa.
Yellow McGregor, NOV2009
Quando li este título relembrei uma música dos Cock Robin "The promess you made" e li o texto com toda a atenção. É lindo, é perturbador, é desolador. E doloroso para mim de comentar porque já estive à beira do rochedo.
ResponderEliminarSó um apontamento: este cenário é palco de muitas histórias celtas que li, que são das minhas predilectas.
E a tua forma de as descreveres é em tudo semelhante às da Julliet Marillier ou da Marion Zimmer Bradley!
Beijocas nossas ;)
Passei uma tarde maravilhosa, sózinho, nestas paisagens e regressei a um passado que nunca vivi. Sem dúvida que é mágico.
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